domingo, 7 de novembro de 2010

Tema: o Além


A Visita

A meio da noite Isabel foi acordada por um suspiro sofredor e sonoro. Sentou-se na cama e começou a olhar com os seus olhos perscrutadores.

- Quem és tu? – Perguntou, com uma voz lenta e baixa.

As janelas abriram-se com estrondo, levadas por um vento e por uma tempestade inesperada, brilhante, veloz e aterradora, como se fosse, não do domínio do ar, mas do interior obscuro do quarto. E ao contrário do que era previsível, Isabel riu-se com satisfação, deixando cair uma lágrima. Só uma, que caiu indefinidamente, fazendo-a aperceber-se do seu amor pelas coisas.

- Afinal existes, e eu quero ser tua amiga! – Disse, ao mesmo tempo que agarrou numa caneta que estava na mesa de cabeceira para tirar apontamentos visuais e registar reflexões, com letras negras impressas em pequenas folhas brancas.

De repente tudo ficou calado, o vento, o pó e a rapariga. A figura esguia de Isabel levantou-se com uma gentileza leve e um gesto ritmado, aproximou-se das janelas e fechou-as.

- Queres que eu me constipe?

Uma sombra vaga rodeou-a e a rapariga controlou a ansiedade com um sorriso no rosto e uma calma no corpo.

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