quarta-feira, 21 de julho de 2010

Tema: Desemprego


O ultimo Voo

Tudo começou com pequenas derrotas diárias que tentou superar com esforços rápidos. Descobriu que a vida era mais imprecisa do que parecia e a sociedade pouco amistosa, porque não dava tréguas aos perdedores. Enfrentava agora o desafio dos limites, estava em estado de desespero, nada encaixava em nada. Por momentos deixou-se embalar pelo estribilho do mar. Viu que as nuvens se encastelaram e as falésias enegreceram até ao impossível. Pôs as mãos na nuca e pensou no caos probabilístico da vida onde ninguém tinha a certeza de coisa alguma. Lembrou-se dos vícios e dos incontáveis ridículos. Olhou o mar. Uma tempestade rugiu com ventos e o céu desfez-se em água. Foi o sinal de uma coisa mais alta, e viu nele a forma indecisa de felicidade. Esvaziou o coração das mágoas e dos medos, rasgou um sorriso e atirou-se. Antes de se fundir com o mar o céu abriu para deixar surgir os últimos raios de uma luz lenta e leve, ouviu vozes vindas de uma raiva sem centro e apercebeu-se que a sua vida continha em si a sua própria negação.