sábado, 15 de maio de 2010

Tema:Vícios


Escravos do

Porque vivia num mundo difícil para se ser bom, Leonor inspirou com força o pó branco e ele entrou de rompante no nariz. Ouviu murmúrios que caiam uns sobre os outros, viu olhares hostis, medonhos e perversos, os pensamentos ficaram caóticos, excessivos, fantasmagóricos, estava ali e fora dali, distante com proximidade, num universo fragmentado no tempo e no espaço, com um clima de tensão no limite do insuportável, cheio de pássaros negros chocando no ar. A adolescente gritou desesperada quando se apercebeu que estava a perder os contornos, tornando-se distante e próxima, distante porque parecia estar a ser enrolada por acontecimentos contraditórios, próxima porque sentia o seu cheiro único. Foi coberta por um nevoeiro que alastrou e cerrou, sentiu um peso pesadíssimo sobre o corpo, viu no reflexo da janela que tinha uma sombra no rosto. A porta do quarto abriu-se e uma gótica com vestes negras e olheiras profundas espreitou. Leonor sentiu então o peso inexorável do destino, as pessoas do passado tornaram-se figuras reais, acreditou então que já não tinha um começo, estava sim num tempo de epílogo. Iria dar-se o grande e definitivo confronto com o destino.

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